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O Senhor Valéry não era bonito.
Mas também não era feio.
Há muito tempo atrás havia decidido trocar os espelhos por quadros de paisagens. Desconhecia, pois, o seu aspecto exterior actual.
O Senhor Valéry dizia:
- É preferível assim.
E explicava:
- Se me visse bonito, ficaria com medo de perder a beleza e se me visse feio ficaria com ódio às coisas belas. Assim, não tenho medo nem ódio.
E, sem ser bonito nem feio, o Senhor Valéry passeava pelas ruas da cidade, olhando com atenção para as pessoas com quem se cruzava.
Ele explicava:
- Se me sorriem, percebo que estou bonito. Se desviam os olhos, percebo que estou feio. A minha beleza é actualizada a cada instante pela cara dos outros.
Por vezes , depois de se cruzar com alguém que desviava os olhos, o Sr. Valéry, percebendo, passava a mão pelo seu cabelo, penteando-se ao mesmo tempo que procurava um outro rosto dentro si próprio, agora mais agradável.
O Senhor Valéry comentava, em jeito de conclusão:
- O espelho é para os egoístas.
- E o desenho? - perguntaram-lhe.
- Hoje não há desenho. - respondeu o Sr. Valéry e despediu-se logo de todos com um movimento brusco, mas gentil.
As pessoas gostavam do Senhor Valéry.
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