segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Com todas as pétalas, {minha} margarida.


Hoje, o teu aniversário.

[vou a tempo de recompor as pétalas que o meu vento te arranca, minha margarida?]

Quero dizer-te que a parte mais verdadeira de mim - a das palavras - vive através de ti.

Vive através de ti a escritora que não sou, o teatro do que não tive, e os sonhos, sempre os sonhos, do que quero ser.

No meio do caos que é a minha insatisfação permanente, só é suportável sentir a metade das coisas porque tu ouves, lês e sentes comigo a metade que me falta.

[uma pétala, duas pétalas, três pétalas]

Contigo, a filosofia das memórias e dos afectos.
O compromisso com os rituais.
A cera das coisas antigas.
A fragilidade das flores.
As casas. A hera. Os alpendres de pedra.
Os avós. As bisavós.
O sentido antecipatório dos obstáculos.
O rasgo na vulgaridade. O detalhe nas peças banais.
O humanismo e a emotividade em tudo.
 A voz sobre os silêncios.
A lucidez sobre a dormência de espírito.
E o inconformismo sobre a apatia.

[três pétalas, duas pétalas, uma pétala]

Digo-te mais a ti do que a mim mesma porque a mim mesma julgo que digo tudo, mas a ti soma-se o tudo ao dobro do que não digo.

Assistes diariamente ao baloiçar do meu pêndulo: eufórico
                                                                           exagerado
                                                                           veemente
                                                                           apaixonado
                                                                           irascível

O meu pêndulo que encanta-magoa.
O meu pêndulo que só sabe baloiçar diante da perenidade que és tu.
O meu pêndulo que, se um dia assentar como os nenúfares de monet, será sobre o lago denso e seguro que sempre foste para mim.

[com todas as pétalas, margarida]

Na imagem: "daisies and poppies", por V. Van Gogh.

3 comentários:

HelTrig disse...

Jo querida,sem o teu vento que seria de mim? É um vento de ar quente, que aquece e refresca a minha alma. Não percas o vento, que as pétalas da margarida precisam para respirar.Obrigada!

the girl in the other room disse...

Que maravilha, maria joana :)

wild disse...

gostava de ser uma margarida...

Alameda de Tílias