Hoje, o teu aniversário.
[
vou a tempo de recompor as pétalas que o meu vento te arranca, minha margarida?]
Quero dizer-te que a parte mais verdadeira de mim - a das palavras - vive através de ti.
Vive através de ti a escritora que não sou, o teatro do que não tive, e os sonhos, sempre os sonhos, do que quero ser.
No meio do caos que é a minha insatisfação permanente, só é suportável sentir a metade das coisas porque tu ouves, lês e sentes comigo a metade que me falta.
[
uma pétala, duas pétalas, três pétalas]
Contigo, a filosofia das memórias e dos afectos.
O compromisso com os rituais.
A cera das coisas antigas.
A fragilidade das flores.
As casas. A hera. Os alpendres de pedra.
Os avós. As bisavós.
O sentido antecipatório dos obstáculos.
O rasgo na vulgaridade. O detalhe nas peças banais.
O humanismo e a emotividade em tudo.
A voz sobre os silêncios.
A lucidez sobre a dormência de espírito.
E o inconformismo sobre a apatia.
[
três pétalas, duas pétalas, uma pétala]
Digo-te mais a ti do que a mim mesma porque a mim mesma julgo que digo tudo, mas a ti soma-se o tudo ao dobro do que não digo.
Assistes diariamente ao baloiçar do meu pêndulo: eufórico
exagerado
veemente
apaixonado
irascível
O meu pêndulo que encanta-magoa.
O meu pêndulo que só sabe baloiçar diante da perenidade que és tu.
O meu pêndulo que, se um dia assentar como os nenúfares de monet, será sobre o lago denso e seguro que sempre foste para mim.
[
com todas as pétalas, margarida]
Na imagem: "daisies and poppies", por V. Van Gogh.
3 comentários:
Jo querida,sem o teu vento que seria de mim? É um vento de ar quente, que aquece e refresca a minha alma. Não percas o vento, que as pétalas da margarida precisam para respirar.Obrigada!
Que maravilha, maria joana :)
gostava de ser uma margarida...
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