sábado, 16 de janeiro de 2010

poetry&flowers I.


" Olha a vida e sorri.

E não te perguntes para quê.

Porque o mais extraordinário dela é justamente não ter para quê.

Saber para quê é dar-lhe uma finalidade conclusa, limitá-la, fechar-lhe o seu excesso.

Pensa assim que o seu absurdo é a sua maior razão.

Nem desvaires em palhaçada, que é ainda uma forma de te doeres com ela.

A gratuitidade de uma oferta não é a sua maior valia?

A vida não se te dá como uma esmola de senhora caritativa.

A vida dá-se-te espontaneamente , sem razão alguma para esse dar.

Não queiras inventar uma razão para a razão nenhuma disso.

Haverá uma ordem no infinito, não a queiras pensar agora.

Porque pensar nela é ainda achar uma razão.

(...)

A tua vida é o acaso sobre que não há que teres perguntas, como a ave se não pergunta ao cantar, ou a flor ao florir num lugar onde ninguém passa.

Não perguntes.

Ou pergunta apenas para apenas saberes que perguntaste e que não valia a pena perguntar.

E agora que perguntaste e não perguntas mais, concentra toda a tua energia e curiosidade e excitação, no ver, ouvir e sorrir para dentro, onde é o sítio do teu apaziguamento, por teres podido ver e ouvir. (...)

Sê grato e contente.

E cala. "

Vergílio Ferreira, in Pensar.

Na imagem: "Nenúfares",  de Monet.

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