Aquele prólogo de setembro foi nosso.
Foi nossa a costa monumental, e o mar adriático que lhe desalinhava a postura hirta.
Nas nossas costas, a Croácia, a perder de vista.
Nas mãos da pessoa-luz, o óculo da máquina a antecipar a beleza do Montenegro.
Tu ias atrás, de música pendurada nos ouvidos.
"Ouve isto: Electrelane" - e todo o teu rosto se abria num esgar de novidade, redefinindo o teu universo musical, definindo o meu.
As mãos protectoras ao volante. Mãos-bússola da minha vida, que sempre guiaram num embalo que me adormece.
["Ouve isto: Toumani Diabate"]
["Ouve isto: Beirut"]
["Ouve isto: Ali Farka Toure"]
Desbravávamos a estrada costeira, ao nível da linha do oceano. Imenso e mágico.
Nas margens, pequenas casas de madeira com barcos atracados às pontes de ligação. Eu vi um velho de barbas brancas num desses barcos que me fez lembrar a capa de "O velho e o mar".
Partilhávamos ascultadores e soava "saturday" dentro da nossa marcha juvenil de memórias e sonhos: "i`ve got a photo from a long time ago: hold it in your pocket/hold it in your pocket"
Ao longe, as nuvens mergulhavam na água.
Impensável, uma ilha com um castelo estendia a cauda do seu vestido verde no mar.
O promontório era nosso: das mãos-bússola,
e da pessoa luz,
e do rapaz-música.
*
Ouço "Electrelane" enquanto caminho na cidade e no inverno.
E é como se me fosse devolvida a costa adriática e o mar me salpicasse os pés:
Minha invencível felicidade do que foi nosso.
1.ª Imagem: Costa Adrática.
2.ª imagem: Montenegro.
1 comentário:
Inesquecível, indescritível,"invencível felicidade" partilhada a quatro, sempre e para sempre, onde quer que estejamos, é um privilégio que só tu sabes dizer.
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