segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

prólogo de setembro.




Aquele prólogo de setembro foi nosso.

Foi nossa a costa monumental, e o mar adriático que lhe desalinhava a postura hirta.

Nas nossas costas, a Croácia, a perder de vista.

Nas mãos da pessoa-luz, o óculo da máquina a antecipar a beleza do Montenegro.

Tu ias atrás, de música pendurada nos ouvidos.

"Ouve isto: Electrelane"  - e todo o teu rosto se abria num esgar de novidade, redefinindo o teu universo musical, definindo o meu.

As mãos protectoras ao volante. Mãos-bússola da minha vida, que sempre guiaram num embalo que me adormece.

["Ouve isto: Toumani Diabate"]

["Ouve isto: Beirut"]

["Ouve isto: Ali Farka Toure"]


Desbravávamos a estrada costeira, ao nível da linha do oceano. Imenso e mágico.

Nas margens, pequenas casas de madeira com barcos atracados às pontes de ligação. Eu vi um velho de barbas brancas num desses barcos que me fez lembrar a capa de "O velho e o mar".

Partilhávamos ascultadores e soava "saturday" dentro da nossa marcha juvenil de memórias e sonhos: "i`ve got a photo from a long time ago: hold it in your pocket/hold it in your pocket"

Ao longe, as nuvens mergulhavam na água.

Impensável, uma ilha com um castelo estendia a cauda do seu vestido verde no mar.

O promontório era nosso: das mãos-bússola,
                                        e da pessoa luz,
                                        e do rapaz-música.

*

Ouço "Electrelane" enquanto caminho na cidade e no inverno.

E é como se me fosse devolvida a costa adriática e o mar me salpicasse os pés:

Minha invencível felicidade do que foi nosso.


1.ª Imagem: Costa Adrática.
2.ª imagem: Montenegro.

1 comentário:

HelTrig disse...

Inesquecível, indescritível,"invencível felicidade" partilhada a quatro, sempre e para sempre, onde quer que estejamos, é um privilégio que só tu sabes dizer.

Alameda de Tílias