sexta-feira, 12 de março de 2010

Não lugar.


Por que não voltas dessa altitude donde não se volta?

Eu hoje tinha uma história para os teus olhos morenos.
E queria teatralizar minha pequena proeza e aplacar nesse meigo sorriso o teu silencioso orgulho de mim.

*
Falta-me que dês o mote à conversa. Que lances a faúlha do debate.

Nunca conheci quem, como tu, congregasse pela provocação.

Quem, como tu, ousasse contrariar a mesa para que ninguém da mesa se apartasse.

Desde que não vens, a conversa decaiu numa sinfonia homogénea que me entorpece.

*
Falta-me a tua pergunta informada.

O teu brilho aguerrido.

O teu regozijo interior com a  inteligência do argumento.

Falta não te dar notícia alguma, por já as teres lido todas de antemão.

*
Não penso todos os dias no teu não regresso.

Só me revolta que não venhas quando me acontecem coisas que têm o teu nome inscrito, por achar injusto

que a vida dessas coisas tenha sobrevivido à tua.


Porque não voltas, eu vou desmembrando as minhas histórias de sujeitos e predicados até não poderem andar mais.
E há sempre naquilo que escrevo um fragmento das histórias mancas que tive de arquivar dentro de mim.

*
Na imagem: "Printemps à Giverny", Claude Monet.

2 comentários:

Lia Costa disse...

Quando a ausência se torna eterna, também o teu amor vive para sempre. E é no teu amor que a ausência se torna, mais do que tudo, uma presença eterna.

Obrigada por nunca estares ausente da minha vida e por te permitires estar sempre presente na minha.

Beijo grande.

Helena Trigueiros disse...

"Quem, como tu, ousasse contrariar a mesa para que ninguém da mesa se apartasse." Meu Deus! Tão fotogáfica essa imagem do teu Avô.Brilhante, meritíssima, diria ele...

Alameda de Tílias