sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A ti. Pelo dia de hoje.


O tronco de uma árvore não tem som.

Os ramos de uma árvore têm. E as folhas também.

Mas o tronco de uma árvore é a sua vértebra, e curiosamente não tem som.

Ergue os ramos e ergue as folhas em silêncio. E em silêncio, faz o mais difícil porque os mantém de pé.

Tu foste assim: um tronco para mim. Presente em cada uma das folhas, como matriz ética que não se parte.

A tua força não teve som.

Como não teve som a tua fé, o teu trabalho, o teu sentido prático do dever e a tua inigualável nobreza

de espírito.

Não há, porém, um som mais alto dessas virtudes que o doído som da minha presença.

À semelhança do que foi a tua vida, creio que a minha melhor homenagem a ti será parca em
palavras.

Quero ver-me,antes, com a tua passada rápida e segura. Os teus projectos. Quero rever-te na honestidade, na verticalidade, na rectidão e na justiça.

E dar-te vida ao repetir-te diariamente nesse filme de virtudes sem som.

Como o modo mais sábio e profundo de te recordar.


[Pintura de Terry Perham, publicada em fine art america]

2 comentários:

HelTrig disse...

Sem som! E tanto som te/nos deixou.
Brilhante imagem do teu Avô!
Tu nunca deixarás de ser som, porque, em ti, o som são as palavras...que sempre escolhes com som.

wild disse...

com duas almas poéticas como as vossas,como envelhecer?

Alameda de Tílias