segunda-feira, 23 de maio de 2011

há(s) - de ser leve.



Todo o tempo teve uma música.

Com o luto do tempo, o luto da música.
E nunca a música como luto do tempo, porque não seria luto.
|mas prolongamento?|
Onde a música que morreu com o tempo que era o dela?
Onde os lugares? Onde a dança?
*
Posso trazer em mim despojos de música, como trago restos de tempo?
*
Tantas vezes sobrepus tempos e músicas na minha vida.
Que perdi a música no tempo que sobreveio.
Que perdi o tempo na música sobreposta.
*
Continuam os lugares. O teatro. E a dança.
*
E continuo hoje contigo para uma certeza singular :
A minha música é como a minha gente.
Iguais a tudo o que fica depois dos lugares e dos tempos.
Quase leves, quase etéreas.
Da leveza das casas a que voltamos.
Da leveza indelével: maior que a circunstância, menos volátil que o sentimento.
Que não se altera com a mudança. Que não acaba na morte.
*
Rasgo o caos da cidade com duros sons de trânsito e guitarra: tudo leve.
Atravessam-me batidas grossas de chuva e bateria: tudo indescritivelmente leve.
*
Caminho sem precisar de saber se serás tempo ido ou música sobreposta.
Seja o que for(es).. Há(s)-de ser leve.



Na imagem: Fotografia do Filme "Pina Bausch" (retirada de dancamentos.blogspot.com/)

3 comentários:

HelTrig disse...

Sim, "Seja o que for(es).. Há(s)-de ser leve."!E enquanto assim fores, continuarás a produzir belos textos das profundezas do teu ser para reveres a pureza em que acreditas.Muito bonito, Mistral!

HelTrig disse...

Sim, "Seja o que for(es).. Há(s)-de ser leve."!E enquanto assim fores, continuarás a produzir belos textos das profundezas do teu ser para reveres a pureza em que acreditas.Muito bonito, Mistral!

Me, Myself and I disse...

Filme maravilhoso este...O 3d finalmente bem utilizado :)

Alameda de Tílias