segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A espera(nça).


"Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo

Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.


Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.


Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.


E de novo caminho para o mar."


Sophia de Mello Breyner Andresen

[fotografia de Fernando Lemos]



2 comentários:

aAprendiza disse...

Que sincronia, Jones... Vai-se(-me) para além da homonímia.
Tb 'o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas' :') um beijinho com saudades

Helena Trigueiros disse...

"E dormem mil gestos nos meus dedos."
O gesto de escrever, em ti, nunca ficará adormecido, apenas adiado.Certeza de mãe. *_*

Alameda de Tílias