Agarradas às cadeiras,
Quantas vezes colocamos a força do nosso voo
numa música?
Agarradas às cadeiras, quantas vezes
Tu estás à minha frente e estás
no Cambodja,
no Vietname
E na Argentina?
Eu estou à tua frente e estou
a palmilhar minhas histórias destras
d`outra vida qualquer?
Quantas vezes somos puxadas
Pela força da gravidade dos sonhos?
E arrastadas para cima
Até furar o tecto da sala
Até partir o telhado do prédio
Até quebrar os pilares
Com que nos prendem lá em baixo
Na travessa dos papéis
Mesmo sabendo
Que as nossas pernas são mais longas
que a travessa onde nos vêem.
Quantas vezes
Nao abres a janela ao fim do dia
E o cigarro atropela euforias
Sobre o ruído da hora de ponta
Que não é senão a vida?
Quantas vezes
Eu olho e sinto
que tu,
o teu cigarro que atropela euforias,
e a tua cabeca inclinada sobre a cidade
Mereciam
nesse segundo...
Da voz portenha, o calor rouco
Da tasca de fado, o burburinho
Do povo que namora a liberdade
bebendo amigos com vinho.
Quantas vezes
Eu olho e sinto
Que tu,
A tua gargalhada escancarada
O teu passo decidido
E o modo como nos acendes em volta
Mereciam agarrar nesse segundo...
Com uma toada de bossa nova,
Toda a magnitude do mundo.
Pintura: "Flying woman" (Lequernez)
2 comentários:
Brutal,mistral!Não conheço C, mas passei a conhecer...
que lindo.
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