sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Para C., pelo dia de hoje.




Agarradas às cadeiras,
Quantas vezes colocamos a força do nosso voo
numa música?

Agarradas às cadeiras, quantas vezes
Tu estás à minha frente e estás

no Cambodja,
no Vietname
E na Argentina?

Eu estou à tua frente e estou

a palmilhar minhas histórias destras
d`outra vida qualquer?

Quantas vezes somos puxadas
Pela força da gravidade dos sonhos?

E arrastadas para cima

Até furar o tecto da sala
Até partir o telhado do prédio
Até quebrar os pilares

Com que nos prendem lá em baixo
Na travessa dos papéis
Mesmo sabendo
Que as nossas pernas são mais longas
que a travessa onde nos vêem.

Quantas vezes
Nao abres a janela ao fim do dia
E o cigarro atropela euforias
Sobre o ruído da hora de ponta
Que não é senão a vida?

Quantas vezes
Eu olho e sinto
que tu,
o teu cigarro que atropela euforias,
e a tua cabeca inclinada sobre a cidade

Mereciam
nesse segundo...


Da voz portenha, o calor rouco
Da tasca de fado, o burburinho
Do povo que namora a liberdade
bebendo amigos com vinho.

Quantas vezes
Eu olho e sinto

Que tu,
A tua gargalhada escancarada
O teu passo decidido
E o modo como nos acendes em volta


Mereciam agarrar nesse segundo...

Com uma toada de bossa nova,
Toda a magnitude do mundo.




Pintura: "Flying woman" (Lequernez)

2 comentários:

Anónimo disse...

Brutal,mistral!Não conheço C, mas passei a conhecer...

Annie disse...

que lindo.

Alameda de Tílias