terça-feira, 20 de março de 2012

21.03



Não me perguntes o que é a poesia: eu não sei nomear o que me vem do lado de dentro.



Se tudo na vida é poesia, pergunta-me antes o que na vida não é.



Há em mim um amor pela cadência musical dos afectos, que é poesia.



Há em mim um amor pela angústia metafísica das coisas, que é poesia.



E um desamor por tudo o que não lateja

não vibra

não emociona

não rompe

não quebra

não cai.



A poesia e a ausência dela:

medidas exactas do meu amor e desamor pelas coisas.



Prenúncios precisos da minha crença nas horas

que ficaram por vir.



Poesia minha que me devolve em cor os dias baços

E me serena mais

Que uma religião qualquer.



Seria preciso que me fosses



Estranha,

Externa,

Estéril,



Para conseguir enunciar-te.

Mas tu és o verso mais universal

Do meu universo

E vens-me de dentro

Como um suspiro.

E eu só sei reconhecer-te

Quando me faltas.


Na imagem: "A poesia está na rua", por M.Helena Vieira da Silva



2 comentários:

Me, Myself and I disse...

You´re showing off Mistral :)

Anónimo disse...

Eu sabia que te podia perguntar "O que é a poesia?" porque só tu me darias a resposta que ultrapassaria o que eu esperava: Grande!

Alameda de Tílias