Não me perguntes o que é a poesia: eu não sei nomear o que me vem do lado de dentro.
Se tudo na vida é poesia, pergunta-me antes o que na vida não é.
Há em mim um amor pela cadência musical dos afectos, que é poesia.
Há em mim um amor pela angústia metafísica das coisas, que é poesia.
E um desamor por tudo o que não lateja
não vibra
não emociona
não rompe
não quebra
não cai.
A poesia e a ausência dela:
medidas exactas do meu amor e desamor pelas coisas.
Prenúncios precisos da minha crença nas horas
que ficaram por vir.
Poesia minha que me devolve em cor os dias baços
E me serena mais
Que uma religião qualquer.
Seria preciso que me fosses
Estranha,
Externa,
Estéril,
Para conseguir enunciar-te.
Mas tu és o verso mais universal
Do meu universo
E vens-me de dentro
Como um suspiro.
E eu só sei reconhecer-te
Quando me faltas.
Na imagem: "A poesia está na rua", por M.Helena Vieira da Silva
2 comentários:
You´re showing off Mistral :)
Eu sabia que te podia perguntar "O que é a poesia?" porque só tu me darias a resposta que ultrapassaria o que eu esperava: Grande!
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